Por estes dias, vimos pelo menos dois episódios de pontes em regiões de alto tráfego de veículos apresentando problemas construtivos. Eu como engenheiro civil, gostando como gosto de meu trabalho, por onde ando, sempre observo tudo, principalmente no que se refere à parte construtiva, sejam pontes, telhados, edifícios, tuneis, etc., e tenho percebido já há muito tempo o péssimo e visível mau estado de várias obras públicas, principalmente, quando não de obras particulares também, onde existem construções com pouca idade, feitas dentro das novas normas e construções com idade avançada, com mais de vinte anos, realizadas dentro de normas da época, com pouca ou sem nenhuma manutenção.
É importante se dizer que as normas de construção foram sendo melhoradas ao longo do tempo, pois refletiam o conhecimento da época, e como tudo, evoluem também. E com o passar do tempo, com a necessidade de melhorias, por exemplo, falando de durabilidade, entre tantas, cito a norma de concreto estrutural, onde melhoraram a proteção das armaduras, aumentando a capa de concreto mínima que era menor (cobrimento), aumentando também a resistência do concreto com que se trabalhava, assim como a quantidade de cimento na mistura, pois antigamente o concreto tinha uma porosidade maior, o deixaram com uma durabilidade bem maior do que era antigamente. Contudo a manutenção de uma construção não se restringe somente ao concreto, mas sim a todos os itens que a compõe e sua respectiva necessidade de manutenção ao longo do tempo. Construções, assim como os automóveis, por exemplo, tem que ter uma manutenção programada, que deve começar tão logo ele seja entregue. A manutenção preventiva e programada, não é um hábito em muitos locais, e isso é uma cultura que precisa ser mudada, pois vale para qualquer tipo de obra, seja pública ou privada. Tudo tem sua vida útil e as manutenções preventivas são sempre necessárias em qualquer item, seja um automóvel zero que você precisa realizar a troca de óleo especificada pelo fabricante a cada 10 mil km, por exemplo, entre outros itens, como pastilhas de freio, pneus, filtros, etc., quanto mais uma obra civil, que tem que ter sua pintura realizada a cada período, bombas de água, pisos com manutenção correta e por aí vai. A manutenção preventiva, nada mais é um fator de conservação do bem e prolongamento de sua vida útil, que se desprezada, inclusive diminui a vida útil do patrimônio. Abaixo, transcrevo trechos da Introdução da Norma NBR 5674/2012 (Manutenção de edificações – Requisitos para o sistema de gestão de manutenção):
“A manutenção de edificações é um tema cuja importância supera, gradualmente, a cultura de se pensar o processo de construção limitado até o momento quando a edificação é entregue e entra em uso.”
“É inviável, sob o ponto de vista econômico, e inaceitável, sob o ponto de vista ambiental, considerar as edificações como produtos descartáveis, passíveis da simples substituição por novas construções quando os requisitos de desempenho atingem níveis inferiores àqueles exigidos pela ABNT NBR 15575 (Partes 1 a 6). Isto exige que a manutenção das edificações seja levada em conta tão logo elas sejam colocadas em uso.”
Apenas para exemplificar e não nos alongarmos demais, seguem abaixo o item 4.3.1 da Norma, onde indica como deve ser um programa de manutenção.
“4.3.1 O programa consiste na determinação das atividades essenciais de manutenção, sua periodicidade, responsáveis pela execução, documentos de referência, referências normativas e recursos necessários, todos referidos individualmente aos sistemas e, quando aplicável, aos elementos, componentes e equipamentos. O programa de manutenção deve ser atualizado periodicamente.”
Abaixo colocamos um gráfico que mostra como a vida útil de um sistema construtivo evolui com as manutenções conforme o tempo.
Como transcrevi acima, citando as referências, percebe-se a extrema importância da Atitude, da Frase “Manutenção Preventiva” que é infinitamente mais barata que a “Manutenção corretiva” (traduzindo: quando o bem quebra e tudo para de funcionar por conta disso), a exemplo do que ocorreu com a ponte. Alguém pode quantificar em quanto ficaram os prejuízos da cidade de São Paulo com os congestionamentos e atrasos de toda ordem nestes dias? Também, será que agora para levar a ponte ao seu nível original e substituir e ajustar o que for necessário, não será muito mais caro do que se tivessem se preocupado com a manutenção preventiva?
Noto isso em várias áreas da construção, inclusos os condomínios, principalmente os da Minha Casa Minha Vida, na primeira faixa, onde para os novos moradores, acredito que não é passada a cultura de que é necessária a manutenção, e onde vejo já, edifícios novos com mais de três anos que nem pintados foram, nos quais já se percebe a deterioração externa e nos quais acredito que já existam infiltrações internas por conta disso. E isso vale também para condomínios de médio e alto padrão, onde a cultura de muitos condomínios é buscar explorar ao máximo a assistência gratuita da Construtora, sem se preocuparem com a manutenção preventiva, já obrigatória por norma desde a entrega do edifício (lembro que as normas tem força de lei), postergando assim, manutenções preventivas, cuja falta gerará mais problemas e gastos no futuro.
Pergunto: Até quando a palavra manutenção será um PALAVRÃO para alguns, pergunto até quando é que na vida útil de um bem, não será considerado que, para seu prolongamento, deve existir a Manutenção Preventiva? Está na hora de mudarmos essa cultura, afinal precisamos cuidar bem de nossos patrimônios, em todos os sentidos, é preciso que em nível governamental e pessoal, se dê também ênfase para essa questão, afinal, manter o antigo é mais barato do que fazer o novo.
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